Mestre Waldemar 1955 Corta Braço

Описание к видео Mestre Waldemar 1955 Corta Braço

Salve, Salve! Parabéns ao Maior Maestro!
Nesta data de hoje, em 22 de fevereiro de 1916 nascia Waldemar Rodrigues da Paixão na ilha de Maré – Bahia. O lendário “homi” do Corta Braço!

(Antes de qualquer ato coloque seu fone de ouvido🎧 para uma honesta apreciação musical). Prepare-se para viajar ao passado, no mais lindo e envolvente registro de capoeira, em seu verdadeiro ambiente, seu território, a vadiagem de rua, autêntica manifestação popular da Liberdade, na maestria de Seu Waldemar, o Mestre!

Quando tive acesso a esse registro foi um início de ciclo em minha caminhada, no mês de julho, ano de 1991 Liége – Bélgica.
Eu morava sozinho naquela cidade, era verão, mas o sol não quis contemplar a tão esperada estação, tudo turvado em cinza, parecia um inverno de pouca luz. Havia um pouco mais de um mês de uma cirurgia no joelho, e muito recentemente havia recebido a notícia que meu pai tinha feito passagem.

Lá eu tive que ficar para desbravar um trabalho com a capoeira, pois era necessário para sobreviver e seguir a missão, como Seu Bento me disse antes de partir.

No momento em que fui presentado com essa obra de Seu Waldemar, mesmo vivendo em uma década onde a capoeira era um modelo acadêmico e esportivo, de formações de grupos e regras com poucas flexibilidade, esse registro muito me assegurou no sentido de acessar uma musicalidade mais profunda, despertando o ouvido musical e a consciência ritualística da manifestação popular.

Na Bélgica havia uma instituição que se chamava Médiathéque, um espaço onde poderíamos acessar registros fonográficos, áudio visual, vinis, VHS que eram disponíveis para levar para casa e gravar. Onde, claro, pagava-se uma taxa.

Em meio a tantos registros, me deparei com a capa de um vinil com dois baluartes manifestando, uma daquelas imagens em PB célebres dos anos 40 ou 50. Ao virar a capa uma outra imagem com capoeiristas a postos, em formação ritualística, nada menos eram: No berimbau ao centro, “Banzêro” como ele dizia, Seu Waldemar, a esquerda no “Gunga” Zacarias Boa Morte, e a direita na Viola Seu Traíra, no pandeiro Seu Rafaé o Cobrinha Verde, ainda agachado com seu berimbau de cabaça grande na mão, Bugalho um exímio tocador e acocorados ao pé do ritual, Cabelo Bom e Ivanir.

Eu cá comigo...gravei o vinil e ao retornar ao Brasil em novembro daquele mesmo ano compartilhei com alguns camaradas, talvez tenha sido a primeira vez que esse registro tenha retornado ao seu país de origem, o Brasil.

O registro foi captado pela antropóloga norte-americana Simone Dreyfus, foi editado e publicado pelo Musée de L'Homme em 1956.
O registro é tão rico que permite ao nosso imaginário fluir, não é apenas uma roda de jogo de capoeira, percebe-se as pessoas chegando, as falas, as intrigas, a preparação, a cena, ameaças, e sobretudo, a entrega à manifestação de rua, do povo, como bem disse um de seus assíduos frequentadores, “eram heróis populares”, Seu Mario Cravo me disse ano retrasado.

Quando é iniciado o ritual, os berimbaus tocam, percebe-se que os ruídos vão se calando, ao cantar Seu Waldemar, “Torpedeiro encouraçado” o silêncio vai ganhando campo, um respeito aos arcos ancestrais, talvez o acesso a outro plano, ao mais profundo mergulho daqueles que lá estavam concentrados nas afetivas melodias e corpos retorcidos da memória muscular, uma espécie de “mantra” vai seduzindo todos para um mesmo estado.

As nuances e dinâmicas musicais são de impressionar, uma verdadeira bateria, charanga, conjunto, todos juntos, um coletivo em um mesmo plano, um propósito ancestral.
Percebe-se que Seu Waldemar canta a mesma ladainha duas vezes e é sensivelmente notório as alterações de melodias e tempo que ele emprega em cada ladainha.

Como ele me disse uma vez em 1987: “Eu gosto é de floreiá no canto, é o meu prazer, o meu grito”.
Quando ele canta no primeiro momento o corrido “Paranauê”, (com um bom fone de ouvido🎧 ) perceberá um dos pandeiros virando mais frequentemente, porém com as frases no momento exato, dialogando com o contexto, não apenas solos aleatórios como vemos hoje frequentemente, sede de holofotes do mundo moderno.
Na segunda ladainha quando fazem a passagem da louvação para o corrido, Seu Waldemar entoa “Pisada de Lampião”, majestosamente, com o berimbau mais grave o “banzêro” entoa para o Estandarte, hino de Waldemar, tudo é ativado no ritual, a Viola com um timbre um pouco mais aberto, porém com sua afinação baixa, us homi eram bons mesmos na ritualística. Enfim!

Confesso que poderia muito bem continuar aqui tentando narrar esse registro, que para mim é o mais lindo e autêntico até então, mas acho muito importante que essa narrativa seja coletiva, por isto compartilho com vocês. Se fizermos audições atentas e profundas sairemos da rasura imediata e iniciaremos uma outra relação com o nosso corpo, a música e a ancestralidade.

No final do vídeo / áudio tem uma surpresa muito especial e inédita, Seu Waldemar tocando seu Ás de Ouro em seu ateliê em 1967🎶

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