Os Grandes Vinhos de Mendoza na Argentina

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Hoje vamos conversar sobre a origem e ascensão de uma das principais terras do vinho no mundo! A maior e mais prolífera zona de vinhedos da América do Sul está situada bem aos pés da Cordilheira dos Andes, em território argentino, sob o nome de Cuyo. Essa grande região possui aproximadamente 190 mil hectares de vinhedos sendo cultivados, o que representa 95% do total de vinhas plantadas na Argentina. Cuyo significa “país dos desertos” na língua huarpe millcayac, dos povos originários que habitaram a área antes da chegada dos colonizadores espanhóis. Inclusive, muitos dos importantes canais de irrigação que encontramos até hoje na região foram construídos por esses mesmos povos nativos. Afinal, sem irrigação seria inviável desenvolver a agricultura por lá, já que se trata de um local extremamente seco no centro-oeste argentino, onde o clima é continental com áreas em condições desérticas. De um lado, os Andes impedem a chegada das brisas úmidas provenientes do Pacífico, já do outro, o Oceano Atlântico está muito distante. Portanto, a água do degelo da cordilheira sempre foi vital para o desenvolvimento agrícola em Cuyo.

Esse grande território está dividido em três províncias: La Rioja (mais ao norte), San Juan e Mendoza (mais ao sul). Dessas três, Mendoza é sem dúvida a principal zona no cenário do vinho, tanto para a Argentina como para o Mundo, respondendo por quase dois terços de toda a produção do país. A indústria do vinho de Mendoza teve um crescimento colossal no século XIX e início do século XX, que a transformou em uma das maiores extensões vinícolas do mundo e a maior da América Latina. Em 1885, foi concluída a ferrovia que ligava Buenos Aires a Mendoza, fazendo com que o lento e custoso comércio de carretas ficasse para trás. Além disso, a chegada maciça de imigrantes europeus nessa mesma época trouxe aumento na demanda de consumo e, principalmente, novas técnicas para produção de vinhos. Para se ter uma noção quantitativa desse crescimento, os vinhedos de Mendoza representavam cerca de 1.000 ha em 1830, mas em 1910 já correspondiam a uma área de 45.000 ha. Hoje são aproximadamente 150.000 ha cobertos por vinhas em Mendoza.

Do ponto de vista histórico, as uvas de casca rosada Cereza e Criolla Grande foram a espinha dorsal da indústria vinícola mendocina, porém essas cepas foram amplamente utilizadas para produção de vinhos de garrafão, mais baratos e de menor qualidade. Atualmente, essas variedades ainda representam 20% do total dos vinhedos de Mendoza, porém estão cada vez mais dando lugar para outras uvas viníferas mais nobres, à medida que se busca maior qualidade de exportação nos vinhos. Como já é sabido por grande parte dos enófilos do mundo, o maior símbolo regional contemporâneo é a Malbec, que, sozinha, corresponde a 26% dos vinhedos cultivados em Mendoza. Essa variedade era considerada de segunda categoria na França e foi levada para a Argentina em meados do século XIX, quando os vinhedos europeus estavam sofrendo com a peste filoxera. Por conta de sua excelente adaptação ao terroir dos Andes e do excepcional trabalho desenvolvido por algumas vinícolas (com destaque para a Catena Zapata), a Malbec de Mendoza elevou o vinho argentino à categoria de estrela internacional. Outras castas que se destacam por ordem de área de vinhedos são: Bonarda, Cabernet Sauvignon, Syrah, Pedro Giménez, Tempranillo, Chardonnay, Merlot e Torrontés. O futuro e a fama dos vinhos elaborados com cada uma delas dependerá dos paladares e demandas do mercado internacional, mas, uma coisa é certa, potencial a região tem de sobra.

by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados

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