Saudades da Amélia (Ataulfo Alves e Mário Lago)

Saudades da Amélia foi composta em 1942 por Ataulfo Alves e Mário Lago. A letra é a lembrança de um marido que já não vive mais com ela – a Amélia. A razão da separação? A canção não diz quem abandonou quem, mas há uma suposição: talvez ele tenha deixado Amélia por uma mulher mais jovem, uma dinâmica comum nos relacionamentos daquela época. Amélia era a típica dona de casa, companheira e submissa, que fazia tudo por ele.

A letra traz uma comparação entre as mulheres “de antigamente,” como Amélia, e uma mulher mais moderna, exigente e materialista, que sonha com luxo e riqueza, desconsiderando as limitações financeiras do parceiro. Esse eu lírico expressa um descontentamento com a mulher contemporânea que exige, mas não tem a consciência e humildade das mulheres dos “antigamentes.”

Alguns historiadores comentam que Amélia morava no subúrbio do Encantado, na Zona Norte do Rio, e sustentava sozinha nove ou dez filhos. Mesmo com toda essa carga, ela era uma mulher apaixonada que se dedicava ao marido por amor. O antropólogo Flávio Testa observa que essa entrega apaixonada, até submissa, ainda existe hoje – ele a vê, por exemplo, nos presídios femininos, onde muitas mulheres foram presas como cúmplices de seus companheiros.

O mais interessante é ouvir Saudades da Amélia dentro do contexto em que foi composta. Porque, na verdade, isso vale para tudo, né? Ouvir, ler, interpretar qualquer coisa só faz sentido se considerarmos o tempo e o ambiente em que foi criado. Sem esse olhar cuidadoso, a gente corre o risco de perpetuar ideias e situações que, no fundo, talvez nem queiramos para nós mesmos.

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