Balão Estratosférico 2023

Por vezes tudo é perfeito!

O trabalho de projeto implica muita dedicação, muito tempo e muita vontade de superação. Trabalhamos todos numa zona que muitas vezes não nos é familiar, porém, ver os nossos alunos a superarem-se a cada passo é mais que suficiente para manter a motivação de encontrar mais uma solução, mais uma resposta, mais uma conquista.

No nosso caso traçamos o objetivo de verificar experimentalmente a retenção da radiação UV que ocorre na camada de ozono; localizando-se o ozono estratosférico entre os 20 Km e os 50 km de altitude, no caso de aumentarmos a altitude em que a radiação solar é captada, a mesma atravessará uma região mais estreita da camada de ozono sendo por esse motivo menos filtrada, pelo que é expectável que a intensidade da radiação UV seja maior.

Para tal solicitamos autorização para realizar o lançamento de um balão estratosférico a partir da escola sede do nosso Agrupamento, Escola Secundária de Padre Benjamim Salgado, no dia 01 de junho; esse pedido de autorização realiza-se à Autoridade Nacional de Aviação Civil e à Navegação Aérea de Portugal.



Durante as atividades letivas, procedeu-se à montagem de circuitos em Arduíno, com sensores diversos, como por exemplo sensores de temperatura, humidade, ultrassom, luz, dióxido de carbono, monóxido de carbono, metano, aldeídos, radiação ultravioleta, matéria particulada.

A aprendizagem das técnicas de programação dos circuitos integrados e montagem dos próprio circuitos eletrónicos resultou da dedicação e esforço dos alunos, com a colaboração de professores e investigadores das Universidades, recorrendo também os alunos a ferramentas de IA para reforçar as suas competências.

Durante todos este processo, destaca-se a preciosa colaboração dos engenheiros Diogo Henriques e Dário Silva do IST, bem como do Engenheiro Henrique Carvalho, do LIP-Minho.



No dia do lançamento iniciamos por testar novamente toda a eletrónica, pois após o lançamento a nossa capacidade de intervenção é muito limitada.

Realizados os testes, procede-se a ligação de todos os componentes da experiência através de um fio de segurança que os mantém unidos durante o voo; neste lançamento tivemos (de baixo para cima) a caixa com a câmera para recolha de imagem, “ovo” com localizador por satélite, circuito para corte remoto do fio e localizador de rádio, paraquedas, sensores de UV, matéria particulada, temperatura e pressão e finalmente o balão. Depois de todos os componentes do sistema estarem ligados, procede-se ao enchimento do balão com hélio e a ligação de todos os componentes ao balão.



Nos testes iniciais antecipamos que a queda ocorresse sobre o atlântico ao largo da Póvoa do Varzim, pelo que o corte do fio se encontrava abaixo da caixa com sensores; seria cortado o fio para recuperar parte dos sensores e câmeras ainda em terra e eventualmente a experiência seguiria com o balão para maiores altitudes, permitindo obter dados relevantes. Porém, o corte não ocorreu (provavelmente por falha de comunicação com o recetor) e todo o sistema foi arrastado pelo vento, tendo o conjunto caído sobre o mar.

Foi com algum desapontamento que assistimos a este desfecho... mas os nossos alunos merecem o melhor e rapidamente nos desdobramos em contactos com o Exército e Marinha. Realçando as virtudes que facilmente associamos aos portugueses, eles também se empenharam para que esta viagem tivesse sucesso e após partilharmos o sinal que ainda estava a ser emitido pelos sensores à superfície da água, rapidamente uma embarcação da Marinha se fez ao mar e passados alguns minutos recebemos a notícia mais desejada: todo o equipamento foi recuperado.



Fomos ao porto receber os nossos militares e marinheiros e foi surpreendente a forma calorosa com que eles nos receberam; fomos convidados a subir a bordo e tivemos uma visita guiada à embarcação, além de ouvirmos histórias verdadeiramente incríveis de salvamentos - pessoas excelentes e verdadeiros heróis que arriscam a sua vida para salvar as de outros.



Restava verificar se o registo dos dados tinha ficado comprometido, uma vez que não era suposto este equipamento ficar à deriva no oceano. À chegada à nossa escola, cuidadosamente lavamos os sensores e cartões de memória e para nosso espanto, o melhor desfecho possível aconteceu: todos os dados estão preservados.



Foi um dia perfeito.