“Minha rotina de desenvolvedor”
Acordo cedo, mas não é por vontade. É pelo peso da responsabilidade. Já pego o celular antes mesmo de levantar da cama: mensagens no grupo da empresa, chamados que viraram “urgentes” durante a madrugada, e o famoso “tem como entregar hoje?”. Respiro fundo. Mais um dia.
Tomo um café rápido, mas a cabeça já está ligada no código. Antes de sair de casa, já abro o notebook pra ver se o commit que deixei rodando de madrugada não quebrou a aplicação. A tela carrega devagar, eu suspiro. Mais um bug. Sempre tem.
Chego na empresa. Uma sala pequena, cadeiras rangendo, fios soltos pelo chão. O sonho de trabalhar com tecnologia se resume a uma mesa cheia de post-its e cobranças. O gerente chega com pressa: “precisamos entregar essa funcionalidade até amanhã”. Mas eu sei que não vai dar. Só que dizer “não vai dar” nunca é uma opção.
Abro o editor de código. O dia inteiro vai ser olhando para linhas e mais linhas que parecem nunca acabar. Tento focar, mas o Slack apita, o WhatsApp vibra, o Trello me joga uma nova tarefa. Cada vez que tento me concentrar, surge uma nova prioridade. É como se eu nunca terminasse nada.
Meio da manhã, já sinto o cansaço. O código trava, a lógica não faz sentido, o banco de dados retorna erro. O cliente liga reclamando que “depois da atualização” algo parou de funcionar. Eu sei que a culpa não é minha, mas quem explica? No fim, tudo cai na conta do desenvolvedor.
Na hora do almoço, eu tento relaxar, mas não consigo. Como rápido e volto logo. Sempre tem alguém me esperando pra “dar só uma olhadinha”. E essa olhadinha vira horas.
À tarde, é pior. Bug em produção, versão que não sobe no servidor, integração que quebra do nada. É um caos constante. E o gerente repete: “vamos lá, a gente precisa ser ágil”. Ágil… eu rio por dentro. Aqui não existe agilidade, só pressão.
O relógio não anda. Eu vejo o ponteiro parado, mas as tarefas só aumentam. Parece que cada linha de código que escrevo gera duas novas pendências. É uma luta sem fim.
Chega o fim do expediente, mas eu ainda estou ali. Ninguém fecha o notebook no horário. O “só mais cinco minutos” sempre vira horas. O escritório vai esvaziando, mas eu fico. Fico porque sei que amanhã vou ter que lidar com os mesmos problemas, e qualquer adiantamento é como respirar um pouco mais leve.
Quando finalmente vou pra casa, já é noite. Me deito no sofá, mas não consigo desligar. A mente continua rodando como se fosse um loop infinito: será que esqueci de fechar conexão no banco? Será que o sistema vai cair durante a madrugada? Será que amanhã alguém vai reclamar de algo que nem é culpa minha?
Olho pro teto e penso: cadê aquele sonho que eu tinha quando entrei na programação? Eu queria criar coisas incríveis, mudar o mundo, inventar algo novo. Mas aqui, tudo que faço é apagar incêndio, corrigir bug e entregar código apressado.
Antes de dormir, eu me pergunto: será que um dia vou programar por prazer de novo? Ou minha vida vai ser só isso: linhas de código, prazos impossíveis e noites mal dormidas?
E o pior é que eu sei a resposta. Amanhã, tudo vai começar de novo.
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