A China Está Perdendo a Paciência com a Rússia

Em meio a alianças e tensões que moldam o cenário global, a relação entre Rússia e China é uma das mais intrigantes da última década. Nos últimos anos, esses dois gigantes têm mostrado uma frente unida, uma aliança sólida que desafiou o Ocidente. Mas, e se disséssemos que essa amizade pode não ser tão inabalável quanto parece? Com o avanço da guerra na Ucrânia, muitos acreditaram que Moscou e Pequim estariam para sempre unidas em sua oposição ao Ocidente, mas sinais recentes indicam que rachaduras começam a surgir nessa relação.

No jogo da geopolítica, há um ditado que diz: "não existem amigos permanentes, nem inimigos permanentes, apenas interesses permanentes". E é exatamente isso que parece estar acontecendo entre Rússia e China. Hoje, vamos aprofundar a análise dessa aliança para desvendar as brechas ocultas nessa fachada de amizade e entender se há motivos reais para que ambos se tornem rivais.

A história nos mostra que Rússia e China nem sempre foram aliadas. Nos anos sessenta, durante o auge da Guerra Fria, ambos estavam longe de uma amizade política sólida. Enquanto compartilhavam a bandeira do comunismo, as duas nações competiam intensamente por influência global. Era uma disputa silenciosa pelo controle de movimentos comunistas estrangeiros. Em várias partes do mundo, surgiam dois partidos comunistas rivais, cada um apoiado por uma dessas potências, que se concentravam mais em atacar um ao outro do que em combater o capitalismo.

Essa tensão escalou em mil novecentos e sessenta e nove, com o confronto fronteiriço sino-soviético, uma breve e amarga disputa que durou sete meses e deixou marcas profundas nos dois países. Depois desse conflito, as relações esfriaram. E só após a queda da União Soviética, quando a Rússia enfrentava uma crise e tentava se reaproximar do cenário global, que Moscou começou a adotar uma política de conciliação. Isso abriu caminho para o que seria a primeira aproximação real entre os dois. Na década de noventa, com o cenário geopolítico transformado, China e Rússia começaram a traçar os primeiros passos de uma parceria, culminando no Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável de
, assinado por Putin e Jiang Zemin.

Esse tratado é interessante. Em seu artigo nove, há uma cláusula que basicamente prevê que as duas nações devem se ajudar em caso de conflito armado. Ele fala sobre compartilhamento de inteligência e até inclui um compromisso de “não uso em primeiro lugar”, garantindo que ambas as partes não usarão armas nucleares uma contra a outra como primeira medida. Isso soa como uma verdadeira aliança estratégica, não é? E, para reforçar ainda mais essa parceria, o tratado foi renovado em dois mil e vinte e um, sugerindo uma continuidade de cooperação e apoio mútuo.

A força dessa aliança parece ter sido testada recentemente. Há rumores de que a Rússia teria, inclusive, aguardado o término das Olimpíadas de Pequim, em vinte de fevereiro de dois mil e vinte e dois, como um favor à China, antes de iniciar a invasão da Ucrânia quatro dias depois. Isso mostraria um nível de coordenação e consideração inédito entre as duas potências, não é mesmo?

No entanto, apesar dessa aparente demonstração de unidade, há questões que podem ser mais complexas. Rússia e China ainda compartilham um longo histórico de interesses divergentes e desconfiança mútua. A pergunta agora é: até onde vai essa aliança?

Relatórios de inteligência ocidentais apontam que altos funcionários chineses estavam cientes da invasão da Ucrânia antes de ela acontecer e que até pediram à Rússia para adiar o ataque até o fim das Olimpíadas de Pequim. Essa “cortesia” pode ter sido um favor de grande valor, mas também nos leva a refletir: afinal, o que sustenta essa aliança entre China e Rússia? E será que ela é realmente tão sólida quanto parece?
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