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Frequentemente, os governos brasileiros são acusados de conduzir a política externa do País tendo como foco seus próprios interesses em vez de uma agenda de Estado. Contudo, mudanças de rumo motivadas por ideologias não são uma exclusividade do Brasil e, em certos momentos, mais do que vontade política, são os fatos que forçam guinadas nas relações internacionais. Essa é a avaliação do professor adjunto de Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV) e doutor em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen (Alemanha), Oliver Stuenkel.
Em entrevista ao UM BRASIL, ele ressalta que, assim como a política econômica, o direcionamento das relações externas também é bastante ideológico.
“A realidade é que o interesse nacional muda em função do grupo que está no poder. O Brasil tem, por exemplo, interesse em abrir a sua economia: o setor agrícola, que é um dos mais competitivos do mundo, prefere abrir e ter um papel maior na economia global; e a indústria, ao mesmo tempo, tende a preferir uma economia um pouco mais fechada para se proteger e prosperar. Então, há um debate constante entre esses grupos”, explica Stuenkel.
No mundo todo, segundo ele, é comum a oposição a qualquer governo acusar a condução da política externa de ser “excessivamente ideológica”.
No caso brasileiro, Stuenkel diz que, mesmo que haja preferência por aproximar o País de alguma nação em especial, há pautas que, ainda que adotadas distintamente, se mantêm. “Eu diria que, no momento em que a gente se pergunta quais são as prioridades, a gente também pensa na questão, primeiro, da integridade territorial – o Brasil tradicionalmente tem tido interesse em reduzir a atuação de potências extraterritoriais na América do Sul, ou seja, articular um projeto regional de estar seguro, evitar grandes crises nos países de sua vizinhança – e, além disso, adotar uma política externa que possibilite e acelere o desenvolvimento econômico”, avalia.
O especialista em relações internacionais salienta que, na avaliação da política externa, não se pode desprezar o que acontece no mundo, de modo que, às vezes, são mais os fatos do que as ideologias que movem a diplomacia e o comércio exterior.
Nesse sentido, ele cita que, na década de 1990, os “Estados Unidos ainda eram o grande centro da economia global, eram o ator político decisivo”, o que corroborava o consenso da política externa do governo de Fernando Henrique Cardoso de aumentar a participação brasileira na economia internacional se aproximando da potência norte-americana.
“Isso mudou a partir de 2002, 2003. Cada vez mais, o centro da economia do mundo voltou para a Ásia, onde esteve por muito tempo nos séculos passados. Então, muita gente diz que houve uma guinada da política externa do [presidente] Lula olhando mais para o sul global, mas a gente também precisa reconhecer que foi a partir desse momento que essa região se tornou um parceiro econômico mais importante. A aproximação econômica do Brasil com a China foi em função de mudanças sistêmicas, não teve tanto a ver, no fundo, com escolhas brasileiras”, esclarece.
Embora alvo de ideologização, a política externa, reforça Stuenkel, não está deslocada do que acontece dentro de um país. “A política externa é uma ferramenta fundamental para avançar a política interna, e não só a questão econômica. Por exemplo, não conseguimos pensar em segurança pública nas grandes cidades brasileiras sem pensar nas relações com o exterior. Não tem como resolver o problema da segurança pública porque o crime é transnacional”, pontua.
As opiniões expressas neste vídeo não refletem, necessariamente, a posição do Canal UM BRASIL.
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