Onde está o Pi? (Publicado no e-Almanaque Etnomatematicas Brasis)
Texto de Carlos Mathias
Universidade Federal Fluminense
Matemática Humanista
O pi é uma palavra que foi pronunciada há 4 segundos atrás. Uma palavra curta, que substantiva inúmeros sentidos... Palavras são registros que nossas memórias acolhem, que nascem de afetos compartilhados – são criações que rapidamente escapam dos seus criadores, para se tornarem sociais. Depois, são devolvidas pelo meio para nós, os estranhos humanos.
Quando vivemos algo juntos, e sentimos algo juntos, pronto! Lá vem mais uma palavra! Palavras são evidências de que desejamos alcançar o outro.
No entanto, culturalmente falando, Pi não é apenas uma palavra, é uma história contada, criada a partir de outra construída ao longo de milênios. O destino de toda coisa criada é, um dia, ser contada: por isso, precisamos refletir para além do que as coisas foram e do que as coisas são: o que está em disputa na humanidade é o que as coisas poderão ser.
Alguns dirão que Pi é a razão entre o comprimento e o diâmetro de uma circunferência, e que isso declara a presença da matemática na natureza das coisas redondas. Eu acrescentaria: o Pi é um egresso das nossas formas de vida, um conjunto de memórias – saberes, que emergem da curiosidade sobre as nossas circunstâncias e da análise das nossas conveniências.
Se as coisas redondas não nos comovessem, nem tampouco compusessem as nossas formas de vida, não haveria Pi, nem como palavra, nem como coisa social. Talvez, me arrisco a dizer, houvesse um Pá, caso fossem outras as formas com que nos importássemos. Todas as coisas poderão acolher relações e nomes, desde que olhemos com interesse para elas. Aquela coisa que foi roída pelo cachorro, também pode acolher relações descritas por meio de números...mas dificilmente tais números ganharão destaque social ao ponto de ganharem um nome especial. Coisas roídas são distintas e desinteressantes, de modo geral.
Alguns dirão que o Pi está presente em cálculos importantes da engenharia e do eletromagnetismo. Isso é verdade. Mas, ora, o número 1 também está, mas não falam tanto sobre ele. Nós criamos mitos em nossas histórias contadas e Pi é uma coisa social que acolhe vários deles.
Metaforicamente falando, eu vejo o Pi como um farol construído pela humanidade, cujo maior valor é dado pelas navegações que orientou em seus arredores, mas que dispensa visitas ao seu local: até mesmo nos cálculos realizados hoje, quem diria, acabamos usando um outro em seu lugar.
Portanto, onde está o Pi?
O Pi está nas memórias e expectativas de seres humanos. E só.
No máximo, em 8 bilhões de seres em vida. E isso, por si, já não é incrível?
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