O artista brasileiro Skelltons fez uma releitura de "A redenção de Cam" chamada "A benção", que valoriza a negritude e subverte a mensagem racista da obra original.
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A história da pintura "A Redenção de Cam", de Modesto Brocos é marcada por um forte simbolismo racista que foi utilizado por alguns membros de religiões abraâmicas para justificar a escravidão de negros africanos. Na bíblia, Cam é filho de Noé e teria sido amaldiçoado por seu pai para que todos seus descendentes fossem escravos, episódio conhecido como “A maldição de Cam”.
“A redenção de Cam” mostra 3 gerações de uma mesma família.
1° idosa de pele preta retinta
2° filha da idosa, mulher Preta de pele clara
3° neto da idosa, criança de fenótipo branco
E ao lado se encontra aquele que seria pai da criança, branco europeu.
A senhora é retratada como se estivesse comemorando o fato de a criança ter a pele clara e não ter nascido preta (portanto sem a maldição de Cam, daí o termo "redenção").
A pintura foi apresentada no Congresso Mundial das Raças em 1911 pelo médico João Batista de Lacerda pra defender sua tese de que a miscigenação das raças seria benéfica para o Brasil. Para ele, as características da pessoa branca, por serem superiores às características de pessoas pretas, seriam preponderantes e num período de um século não existiriam mais negros no Brasil
Partindo dessa obra, o artista brasileiro, Skelltons, fez uma versão que valoriza a negritude (seus traços, cabelos e sua cor) e quebra a lógica racista do branqueamento. Um ato de rebeldia graficamente representado pela valorização do negro.
“A bênção", como foi chamada, foi usada como imagem de referência do 3º Seminário Internacional Histórias do Pós-Abolição no Mundo Atlântico, que aconteceu ano passado em Niterói no Rio de Janeiro. Foi um evento que buscava destacar o papel que pessoas negras escravizadas e libertas desempenharam, por meio de suas trajetórias individuais e coletivas. O Seminário também aprofundou discussões sobre os significados da liberdade e a conquista de lugares sociais diversos.
A arte é um meio poderoso de expressão e reflexão, e é importante refletir com criticidade sobre outras formas de viver e produzir arte. No Brasil, intelectuais e artistas negros e negras têm atuado desde o período da escravidão e no pós-abolição, buscando representações sociais que demonstrem a afirmação de sua humanidade. Pessoas como José Correia Leite (Jornalista), Antonieta de Barros (jornalista, professora e política), Abdias do Nascimento (ator, poeta, escritor), Lélia Gonzalez (professora, filósofa e antropóloga brasileira), Beatriz do Nascimento (historiadora, professora, roteirista) e Hamilton Cardoso são alguns exemplos de intelectuais que lutaram por essa causa.
A sabedoria filosófica e artística, graficamente impressa no símbolo Adinkra denominado SANKOFA, representado por uma ave coçando sua própria cauda, é um lembrete para continuarmos a aprender com o passado, mudar o presente e construirmos um futuro melhor. A arte e a cultura são fundamentais para que possamos refletir sobre nossa própria história e sobre as desigualdades sociais e raciais que ainda persistem.
Devemos apoiar e valorizar a arte e os artistas negros. Assim como Skelltons fez ao subverter "A Redenção de Cam", precisamos continuar lutando para mudar as representações sociais e valorizar a humanidade da população negra.
Referências:
Comunicação, Educação e Arte - Interfaces para o enfrentamento do racismo - Rosângela Malachias
Subvertendo imagens racistas: a costura da memória de Rosana Paulino (Jornal da USP - Thiago Campolina de Sousa
Resumo sobre “A redenção de Cam” por @olimpiopt via Twitter
III Seminário Internacional Histórias do Pós-Abolição no Mundo Atlântico
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