É (IM) POSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO?

Nós vivemos, ainda, influenciados pela cultura do amor romântico. É só lembrar de todos os filmes que assistimos, de todos os romances que lemos, de todas as músicas que ouvimos que tratam do tema e que dizem, como Tom Jobim, que É impossível ser feliz sozinho.
Grande parte da estranheza sobre isso, então, é uma questão cultural. Como espécie, nos sentimos mais seguros quando todos seguem um padrão, quando todos têm um comportamento semelhante. Essa necessidade de segurança é a origem dos nossos preconceitos, pois o diferente sempre é uma ameaça em potencial.
Mas seria uma simplificação acusar o romantismo. Na verdade, desde a Antiguidade o ser humano se debate sobre esse tema: afinal, podemos viver sozinhos, podemos ser felizes sozinhos? Isso já é tratado em O Banquete, de Platão. Essa história de almas gêmeas, da nossa outra metade que está em algum lugar nos esperando é coisa muito antiga. Nos Upanishads, que devem ter sido escritos uns 800 anos A.C., também já há essa preocupação.
Mas de onde vem essa necessidade de companhia, de alguém com quem dividir a vida? O fato é que nós somos seres incompletos. Todos somos incompletos. Somos fragmentos do Todo; e jamais nos sentiremos completos por muito tempo por causa de um relacionamento. Do ponto de vista biológico, já nascemos com a impressão e o choque da separação: estamos dentro de um ser, como se fizéssemos parte dele, e somos expulsos de dentro desse ser. Já nascemos, portanto, carentes de aconchego.