Em 45 anos de jornalismo, Paulo Markun nunca permaneceu mais que dois anos em um mesmo veículo de comunicação. Ao longo da carreira, acumulou passagens rápidas por dezenas de redações, entre elas: O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, TV Globo, TV Bandeirantes. Contudo, à frente do programa Roda Vida, da TV Cultura, ele ficou uma década. "E já faz 10 anos que saí e as pessoas ainda se lembram dessa minha passagem. Alguma marca eu devo ter deixado", diz Markun. Entre 1998 e 2007, ele mediou mais de 300 entrevistas do Roda Viva. Nesse tempo, passaram pelo programa os ex-presidentes José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva; figuras polêmicas da política nacional como Antônio Carlos Magalhães, Roberto Jefferson e Paulo Maluf; convidados internacionais do porte de Hugo Chávez, Evo Morales e Gay Talese; além de artistas como Gilberto Gil, Elza Soares e Zubin Mehta. Um dos momentos mais marcantes, recorda Markun, foi a discussão com o ex-general do regime militar Newton Cruz. "Ele achou que os entrevistados o estavam pressionando muito, recusou-se a responder as perguntas e ficou alterado. Certa hora tive que intervir e dizer a ele que a cadeira do Roda Viva era mais confortável do que aquela em que eu havia me sentado no DOI-CODI, quando fui torturado pela ditadura militar", conta Markun. Jornalista profissional desde 1971, a carreira de Markun começou antes de cursar a Faculdade de Comunicação e Artes, na Universidade de São Paulo (USP). As primeiras pautas foram para um jornal do movimento estudantil secundarista, na década de 1960. "Foi quando me despertei para a política". Depois, editou jornais e panfletos para o Partido Comunista Brasileiro, ao qual foi filiado até 1975, quando foi preso pelos militares. "Houve uma caça aos comunistas da TV Cultura na época. Fomos presos eu, o Vladimir Herzog e mais um colega. No meu caso, a prisão envolveu a condição de torturarem a minha esposa na cela ao lado, para que eu ouvisse os gritos. É uma situação que eu suspeito que poucas pessoas conseguem superar". No programa, Markun ainda fala do processo de redemocratização do país; faz uma avaliação dos governos de FHC e Lula, foco do livro de sua autoria "O Sapo e o Príncipe"; e conta as dificuldades que enfrentou como gestor e jornalista de TVs públicas em São Paulo e Brasília. Aos 64 anos e longe das redações, ele hoje se dedica à produção independente. Já dirigiu mais de 60 documentários e é autor de dezenas de livros-reportagens e biografias.
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