Alberto Caeiro: A espantosa realidade das coisas / Por Mário Viegas

Описание к видео Alberto Caeiro: A espantosa realidade das coisas / Por Mário Viegas

VÍDEO_POEMA #080
Alberto Caeiro [Fernando Pessoa (1888-1935)]

“A espantosa realidade das coisas” [1915] in «Escolha de poemas de Alberto Caeiro (1889-1915)», Athena, nº5, 1925. A seleção, feita pelo próprio Pessoa, teve por título “Poemas inconjuntos”.
Dito por Mário Viegas no LP «O Guardador de Rebanhos», Vol. 2, Guilda da Música, 1983

AUDIO: Jóhann Jóhannsson, “Miracle, mystery and authority” in «Fordlandia», 4AD (2008)

Filmado na Carrasqueira (concelho de Alcácer do Sal) e no M.A.A.T. em Lisboa.

POEMA:
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Комментарии

Информация по комментариям в разработке