Vínculo Traumático: por que as pessoas permanecem em relacionamentos abusivos?

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Uma pergunta que sempre é feita: por que as pessoas permanecem em relacionamentos abusivos mesmo quando não há dependência econômica ou algum outro laço que impeça sair? A resposta para isso está no que chamamos de vínculo traumático, ligação traumática ou "trauma bonding". Relacionamentos abusivos muitas vezes se caracterizam pela elevada carga emocional, pela inconsistência, e é nessa oscilação emocional que se forma o "vício" dessa relação. A dinâmica caótica da relação, cheia de altos e baixos, cria o próprio problema, o sofrimento experienciado pela vítima, que passa a ver nos altos da relação a única saída para cessar o sofrimento. Trata-se de uma dinâmica "circular", pois a relação causa sofrimento na maioria do tempo, mas eventualmente alivia o sofrimento com "bons momentos", de modo que a vítima, confusa, identifica isso como algo que vale a pena, como se os raros "bons momentos" compensassem todos os inúmeros momentos ruins. A velocidade e intensidade desse tipo de relacionamento cria uma vinculação emocional precoce, mas é essa intensidade o mesmo fator que, ao longo do relacionamento, causa problemas; a vítima, condicionada a essa dinâmica, se vê então justificando (normalizando) comportamentos abusivos e tentando agradar para receber, eventualmente, alguma dose de carinho e afeto.

Como um vício, qualquer pessoa pode eventualmente ser inserida nessa dinâmica, mas há um fator de vulnerabilidade: o modelo de apego durante a infância. Pessoas que foram criadas por cuidadores inconsistentes, que alternavam entre afeto e punição, proximidade e distância, num ambiente caótico ou com constante rejeição, podem ser mais suscetíveis a uma dinâmica intensa e instável na vida adulta. Ao desenvolver um modelo de apego ansioso, um adulto que cresceu num ambiente inconsistente ou caótico, pode "normalizar" a inconsistência, e por isso buscar agradar o outro na tentativa de mitigar a dor. Uma família ao mesmo tempo punitiva e protetora gera confusão nas crianças que ali se desenvolvem, que passam a aceitar nos relacionamentos a alternância entre sentimentos negativos e positivos. O caos é, para essa pessoa, normal, pois já foi algo vivido anteriormente.

A superação de um vínculo traumático para pelo reconhecimento de que as justificativas para se permanecer nessa relação são autoengano. É importante entender que se está vinculado não pelo afeto, mas pela instabilidade da alternância entre emoções negativas e positivas, nas quais as positivas servem de eventual alívio. A culpa também tem papel aí, pois muitas vezes se permanece tentando se provar "uma pessoa melhor", sem entender que o problema está no outro. Compreender essa relação é como um vício, no qual se destrói por poucos momentos de euforia é fator importante para deixar essa relação. É importante pensar no hoje e não no futuro, ignorar promessas de mudança que nunca acontecer, focar nas atitudes e não apenas nas palavras; você não irá mudar essa pessoa, mas pode se transformar e buscar uma outra vida. Uma psicoterapia pode ajudar nesse sentido, permitindo entender suas emoções, superar a confusão e não agir impulsivamente; ao entender seus padrões afetivos é possível transformar esses padrões e mudar comportamentos.

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Alan Delazeri Mocellim é Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do departamento de Sociologia e da pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Leciona, pesquisa e orienta nas áreas de Sociologia das Emoções, Sociologia do Conhecimento e Psicologia Social. Currículo disponível em: http://lattes.cnpq.br/0264933519544511

O objetivo do canal é discutir em perspectiva interdisciplinar, sociológica e psicológica, relacionamentos conflituosos e abuso emocional, nas relações familiares e amorosas, refletindo sobre suas causas e suas consequências. Serão discutidos temas como relacionamentos abusivos, traumas de origem familiar, comportamento controlador, comportamento passivo-agressivo, egoísmo e manipulação, agressividade e autocontrole, aprendizagem social das emoções, regulação emocional, estresse pós-traumático, borderline e narcisismo, codependência e contradependência.

Os vídeos aqui apresentados são resultado do projeto de extensão "Violência Psicológica e Abuso Emocional" desenvolvido por Alan Delazeri Mocellim na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Qualquer uso de material aqui apresentado deve, portanto, referenciar o autor (MOCELLIM, Alan) e o apoio institucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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