Entre os cantores e compositores brasileiros Elomar Figueira Mello é talvez o maior representante do nosso sertão profundo, um típico menestrel dos tempos medievais, que sabe mesclar as elevadas harmonias do canto clássico à sonoridade melodiosa dos cantos populares.
Nascido nas imediações da cidade de Vitória da Conquista (Sudoeste da Bahia, 329,15 km de Salvador 2 ) em 1937, é conhecido como cantador, violeiro (embora seu instrumento seja o violão), menestrel das caatingas, trovador... Desde o começo de sua carreira como cantor das coisas do sertão, ele adota uma atitude reclusa, evitando a exposição exacerbada de sua imagem e de sua vida. Na Fazenda Casa dos Carneiros, a 20 km. da cidade de Vitória da Conquista, compôs parte significativa de sua obra, bem como na fazenda Duas Passagens, no Rio do Gavião, e, mais recentemente, na Fazenda Lagoa dos Patos, na Chapada Diamantina 3. São lugares visitados pelos seus admiradores e amigos, e são como que lugares míticos dentro da sua obra. Sua insistência em não querer sua imagem registrada pelo público de suas apresentações é algo que chama a atenção. Nas duas ocasiões em que estive em apresentações suas no Recife, vi Elomar se indispor com pessoas que tiravam fotos da apresentação. “Isso me desconcentra”, disse da última vez. “Por favor, não repita; já foi dado o aviso”. No entanto, ao final da apresentação, recebia uma fila enorme de gente, dedicando atenção a cada um.
Na canção “Curvas do Rio” o personagem fala no linguajar típico do matuto sertanejo da necessidade de “dar um pulo” em “Son Palo Triang’ Minêro”, ele vislumbra nesses lugares uma solução para seus problemas. Ou isso, ou cair nas mãos de um agiota, o Véi Brolino, e empenhar todos os seus bens. Uma história que deixa entrever começo e fim, e que mostra uma característica das letras de Elomar. Essa característica de contador de estórias dá a Elomar adjetivos como trovador, menestrel, bardo, repetidos constantemente por público e jornalistas que se ocupam de sua arte. A desolação da situação exposta na canção é refletida musicalmente na introdução da música.
Essa música faz parte do álbum “Na Quadrada das Águas Perdidas” (1978) - Gravado nos estúdios do Seminário Livre de Música da Universidade Federal da Bahia, em dezembro de 1978, com participação e muito empenho dos malungos: Dércio Marques, Carlos Pita, Fábio Paes, Xangai, Elena Rodrigues Neuma, Cal, Limonge e o saudoso Alevando Luz. Com algumas penadas do também saudoso Ernest Widmer. O ensaio de apresentação do texto é de outro malungo que já se também foi: Ernani Maurilio Figuerêdo.
CURVAS DO RIO
De: Elomar Figueira Mello
Vô corrê trecho
Vô percurá uma terra pr'eu podê trabaiá
Pra vê se dêxo
Esta minha pobre terra véia discansá
Foi na Monarca a primeira dirrubada
Dêrna d'então é Sol é fogo é tái d'inxada
Me ispera, assunta bem
Inté a bôca das água qui vem
Num chora conforma mulê
Eu volto se assim Deus quiser
Tá um apêrto
Mas qui tempão de Deus no sertão catinguêro
Vô dá um fora
Só dano um pulo agora in Son Palo, Triang’ Minêro
É duro môço esse mosquêro na cozinha
A corda pura e a cuia sem um grão de farinha
A bença Afiloteus
Te deixo entregue nas guarda de Deus
Nocença ai sôdade viu
Pai volta pras curva do rio
Ah mais cê veja
Num me resta mais creto prá um furnicimento
Só eu caino
Nas mão do véi Brolino mêrmo a dez por cento
É duro moço retirá p'rum trecho alheio
C'ua pele no osso e as alma nos bolso do véi
Me ispera, assunta viu
Sô inbuzêro das bera do rio
Conforma num chora mulé
Eu volto se assim Deus quiser
Num deixa o rancho vazio
Eu volto pras curvas do rio
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