As forças simbólicas de Saramago em “O Evangelho segundo Jesus Cristo"

Este é o ano do centenário de José Saramago (1922-2010), momento perfeito para ler “O Evangelho segundo Jesus Cristo”. É um romance que me acendeu vontades de ler e reler trechos bíblicos que cresci ouvindo nas celebrações, mas arrebatou-me, sobretudo, pela ficção saramaguiana que se faz entre o não dito, entre o sugerido, entre o “é óbvio que” ou “bem que podia ser”, adquirindo a história do nazareno forças simbólicas profundas, como se tivesse sendo contada pela primeira vez.
Uma história em que se sobressai Deus como antagonista, perverso, vingativo e sedento de poder; história na qual se cria certo carisma pelo Diabo/Pastor; que se profundamente entende aquela tantas vezes repetida: “Eis o cordeiro de Deus”; e que, especialmente, emerge uma mulher sábia, potente, segura de si e que susteve a história de Jesus Cristo na idade adulta, posto que estava com ele e para ele. Diante da desgraça de ser uma mulher, perante Deus, Maria de Magdala tece, emocional, revela do Filho de Deus uma faceta mais narrada: a do amor carnal. Ousado, Saramago, tão bem interpretado nos verbetes teóricos do “Dicionário de Personagens da obra de José Saramago” (Edifurb, 2012), organizado por minha querida amiga e escritora Salma Ferraz. Boa leitura!

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