Como perdoar e superar traumas

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Marisa de Abreu
Psicóloga CRP 06/29493

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Como perdoar e superar traumas? – (Pergunta de inscrito)
Esta semana assisti um filme que me indicaram por ter uma mensagem teológica.
Mencionar filmes é sempre muito delicado. Como sempre tem quem pretende assistir e não gostaria de ter spoiler nem vou mencionar o nome do filme.
Filme muito bonito, emocionante, triste e feliz conforme o momento. Não estou recomendando o filme, não seria algo que eu faria pois daria a impressão que faço indicações religiosas, e uma coisa que faço questão é trabalhar com a psicologia na sua forma de ciência, que não impede que cada paciente tenha sua religião, mas neste filme existem passagens que se assemelham muito a eventuais etapas da terapia.
Também não gosto de mencionar cenas de filmes ou programas de TV que envolvem cura emocional justamente para não dar a impressão que a coisa é tão simples como colocada na TV, pois trata-se de um formato que precisa prender a atenção do espectador então toda a parte de construção e consolidação do ganho não aparece nestes filmes dando a impressão de situações mágicas, o que pode ser ruim quando frustra a pessoa que procura terapia e não se encontra com tais momentos instantâneos.
Vi cenas que retratam dores muito comuns em cada um de nós. São episódios pelos quais muitas pessoas passam em suas vidas e por mais que a pessoa tente se livrar das memórias, por mais que tente ser diferente daquilo que o fizeram pensar que era, alguma marca em forma de dor constrói consequências comportamentais importantes. Ou seja, a pessoa poderá fazer coisas, boas ou ruins, produtivas ou não produtivas, funcionais ou não funcionais, devido ao que viveu em sua fase de vida mais delicada, onde absorveu mais informações do mundo, que é a infância.
Ali um garoto que teve um pai absurdamente agressivo, um pai que não conseguiu superar os próprios traumas causados também por um pai inadequado em seu papel de protetor e educador, faz algo a qual carregou uma forte culpa por muito tempo, algo que em sua mente infantil seria a solução para que sua mãe e o resto da família não continuasse sofrendo.
Essa culpa se soma a outra quando acontece outro episódio também muito forte do qual ele se culpa por não ter impedido.
Aí começam as cenas onde ele, através de elaborações internas se dá oportunidade de ressignificar esse pai que teve, assim como ressignificou o seu próprio papel de pai. Através da compreensão, bastante racional, de que seu pai só entregou o que recebeu, que foi incapaz de superar, mas que ninguém tem obrigação de superar, principalmente quando não tem ajuda, e que pessoas feridas ferem quem está ao seu redor. Toda essa clareza lhe facilitou construir um novo estado mental, uma nova forma de ver a si mesmo e o mundo, e passar a ser a pessoa que sabia ser a melhor para ele mesmo e para sua família.
Muitas vezes na terapia o caminho que o psicólogo percebe ser importante, percebe que o paciente está pronto para essa introspecção, tem condições cognitivas para isso, pode trabalhar justamente esse caminho onde o perdão se faz de forma de compreensão, de eliminar julgamentos tanto dirigidos aos outros como a si mesmo.