Bombardeio Amoroso (lovebombing) é o nome dado, normalmente em visão retrospectiva, ao momento inicial de relacionamentos que se tornam abusivos. Trata-se de um aprofundamento muito acelerado da intimidade, no qual em poucas semanas as pessoas já se tornam muito próximas. Esse momento inicial é sentido como de conexão "mágica", como algo totalmente diferente e novo, trás consigo a sensação de "ter encontrado a pessoa ideal", mas também é uma amostra do nível de desregulação emocional dessa pessoa que confere à essa relação um nível de emotividade muito grande desde o início. No período de bombardeio amoroso demonstrações de felicidades, para exibição pública, e demonstrações de afeto, para conquistar, se tornam frequentes. O conquistador, que bombardeia, dá ao conquistado uma validação excessiva, fazendo que o conquistado se sinta especial, e se vincule rapidamente pela lisonja e autoestima a partir dos elogios recebidos. Para alguns o bombardeiro amoroso parece "normal", por acreditarem um amor romântico idealizado, para outros, no entanto, lhe parecerá que há algo de errado, intenso demais, ou uma dedicação estranha, excessiva ou obsessiva.
Tudo isso poderia ser aceitável, visto como normal, se o bombardeiro amoroso fosse uma mera conquista, ou apenas sedução. Não se trata aqui de conquistar, mas de depositar expectativas de futuro, emoções e fantasias na pessoa; em resumo, depositar a realização de si mesmo no outro. A pessoa que bombardeia se dedica de modo muito maior a essa conquista, porque atribui ao desejado um papel fantasioso, o idealizando. A expectativa fantasiosa, no entanto, raramente sobrevive a realidade, e tão logo a realidade seja enfrentada a frustração faz com que comecem as críticas, a desconfiança, a indiferença e a desvalorização. É nesse momento que um relacionamento fundado em lisonja e bajulação passa a ser tornar abusivo. É a partir daí que o outro, colocado no pedestal, sofre sua queda, e confuso, tenta corresponder às expectativas irreais, de modo a voltar ao "normal", com a esperança de ter aquela pessoa dedicada "de volta", ou permanece confusa sem saber porque tudo começou a dar errado.
Em alguns casos, segue-se ao bombardeio amoroso o espelhamento (mirroring). Enquanto o bombardeio é comportamento inconsciente, baseado nas expectativas irreais e necessidades emocionais do outro abusivo, o espelhamento é consciente, pois trata-se da criação de uma imagem planejada para agradar o outro. O espelhamento é manipulação, é o desenvolvimento de uma estratégia planejada de conquista mediante a colega de informações, ou seja, pelo estudo (quase obsessivo) de interesses, gostos e necessidades da pessoa a ser conquistada. Com o espelhamento o conquistador se torna o que o outro precisa. Mediante o estudo sistemático o outro, o conquistador cria uma "máscara", uma falsa personalidade para encobrir seus defeitos, moldada especialmente para controlar as impressões que se terá dele. Espelhar exige um profundo esforço psicológico, e como tal causa desgaste, causa cansaço, e não pode ser mantido num longo prazo. Tal como no bombardeio amoroso, após o espelhamento é comum que se sigam abusos, na forma de projeção e culpabilização, pois nada que a pessoa conquistada fizer irá corresponder às expectativas irreais que foram criadas. O relacionamento com uma pessoa que "espelha" é como o relacionamento com um fantasma, com uma farsa, que uma vez terminado deixa apenas a confusão sobre o que foi real ou não na relação.
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Alan Delazeri Mocellim é Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do departamento de Sociologia e da pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Leciona, pesquisa e orienta nas áreas de Sociologia das Emoções, Sociologia do Conhecimento e Psicologia Social. Currículo disponível em: http://lattes.cnpq.br/0264933519544511
O objetivo do canal é discutir em perspectiva interdisciplinar, sociológica e psicológica, relacionamentos conflituosos e abuso emocional, nas relações familiares e amorosas, refletindo sobre suas causas e suas consequências. Serão discutidos temas como relacionamentos abusivos, traumas de origem familiar, comportamento controlador, comportamento passivo-agressivo, egoísmo e manipulação, agressividade e autocontrole, aprendizagem social das emoções, regulação emocional, estresse pós-traumático, borderline e narcisismo, codependência e contradependência.
Os vídeos aqui apresentados são resultado do projeto de extensão "Violência Psicológica e Abuso Emocional" desenvolvido por Alan Delazeri Mocellim na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Qualquer uso de material aqui apresentado deve, portanto, referenciar o autor (MOCELLIM, Alan) e o apoio institucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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